Os primeiros a conhecer a seda foram os chineses. Diz-se que foi Fo Xi, o primeiro imperador da China, que ensinou o seu povo a cultivar amoreiras e a criar bichos-da-seda, embora tenha sido Hsi-Ling, esposa do imperador amarelo Huang-Ti, que ficou historicamente associada à descoberta da fiação da seda, sendo mesmo adorada, segundo reza a lenda, como a deusa do bicho-da-seda. Conta-se que Hsi-Ling descansava no jardim quando um casulo caiu dentro da sua chávena de chá quente. Observando o desenrolar do fio da seda, Hsi-Ling interessou-se pela arte de criar casulos e levou as lagartas do bicho-da-seda para os aposentos reais onde as protegeu dos seus inimigos naturais e do tempo inclemente, inaugurando assim a cultura doméstica do bicho-da-seda.

 

O reinado do imperador amarelo é datado tradicionalmente entre 2677-2597 a.C. mas sabe-se hoje que, apesar desta lenda, por essa altura a sericicultura já era uma atividade desenvolvida. Graças ao aperfeiçoamento das técnicas de exploração arqueológica e de conservação dos materiais tornou-se possível resgatar têxteis que, no passado, teriam entrado em decomposição imediata assim que expostos ao ar e à luz. Assim, descobriram-se em Zhejiang vários laços, fios e fragmentos de tecido tingidos de vermelho e datados de 3000 a.C., assim como foram encontradas sedas muito antigas num cesto de bambu durante as escavações de Chekiang. Um desses fragmentos era de seda produzida pelo bicho-da-seda doméstico, o  Bombyx mori.

 

Na verdade, existem muitas espécies de bichos-da-seda selvagens encontrados em diversos países mas a chave para a compreensão do domínio da China, na manufatura da seda, reside apenas numa espécie: a borboleta cega e incapaz de voar denominada Bombyx mori. A sua antecessora selvagem é provavelmente a Bombyx mandarina Moore, uma borboleta que vive apenas nas amoreiras brancas da China. Durante milhares de anos, os chineses estudaram todos  os tipos de bichos-da-seda e desenvolveram a sericicultura, fazendo com que a Bombyx mori evoluísse no sentido de se tornar a produtora especializada de seda dos dias de hoje: uma borboleta cuja vida tão breve se resume ao acasalamento e à produção dos ovos, que darão vida às gerações seguintes de bichos-da-seda.

 

A cultura do bicho-da-seda e o labor do seu fio foram segredos preciosamente guardados e sanções sem piedade esperavam aqueles que violassem o sigilo. O terror e o negócio perpetuaram o segredo. A seda era vendida pelos chineses, sendo transportada por terra, através dos Himalaias, da Índia e da Pérsia até chegar à Turquia, à Grécia e a Roma. Eram as famosas Rotas da Seda, fundadas no tempo do imperador Han Wu e do império romano, que constituíram um dos fatores mais decisivos de expansão e de encontro entre culturas.

 

Por volta do ano 550, aquando do reinado do imperador bizantino Justiniano, dois missionários viajaram à China e conseguiram trazer, para Constantinopola, ovos de bichos-da-seda escondidos dentro de bengalas de bambu.

Começa assim, gradualmente, a divulgar-se a sericicultura no mundo ocidental que há muito cobiçava este negócio precioso o qual, no entanto, tardou em explorar e dominar. Em Portugal, a mais antiga referência à cultura do bicho-da-seda diz respeito a Trás-os-Montes, no século XIII, sendo que Bragança, no século XV, surge como o berço do fabrico da seda. A partir de finais do século XVII, o cultivo da amoreira, a criação dos bichos-da-seda e a manufatura de tecidos em seda conheceu um importante desenvolvimento no nordeste transmontano.

 

Em Bragança, fabricavam-se veludos, damascos e gorgorões e em Mirandela registava-se intensa criação de bichos-da-seda, sendo que as camponesas rústicas de Trás-os-Montes eram peritas em tirar a seda do casulo, passando-a a meadas com uma roda ou dobadoura e uma panela de água quente.

Em julho de 1786 chegaram a Lisboa, vindos de Turim, José Maria Arnaud e seu filho, Caetano Arnaud, que ficarão encarregues de examinar as criações do bicho-da-seda e as fiações em Trás-os-Montes e de divulgar as técnicas de fiação do Piemonte, as quais eram, na altura, das mais avançadas na Europa.

Embora a família Arnaud tenha constituído um importante contributo para o desenvolvimento da indústria das sedas eles irão encontrar igualmente inúmeras resistências locais, nomeadamente por parte dos artíficies, que se recusavam a abandonar os seus processos tradicionais profundamente rudimentares.

O monopólio dos Arnaud em Chacim foi definitivamente abalado através da criação, em 1802, da Real Companhia do Novo Estabelecimento para as Fiações e Torcidos de Seda que procurou promover a plantação da amoreira, o culto do bicho-da-seda e o labor da seda.

 

Após um breve período de crescimento, deram-se as invasões francesas, entrando-se num ciclo negativo de crescimento, durante o qual a Real Companhia das Sedas suspendeu as suas operações, entrando na decadência. Em 1810, a Fábrica de Chacim foi separada da Real Companhia e deixou de haver qualquer controlo sobre a fiação da seda em Trás-os-Montes.

Na década de 1860, Portugal assistiu a um significativo crescimento da sericicultura, motivado pelo aumento da procura do casulo e da semente por parte de comerciantes da França, Itália e Espanha, onde proliferavam as doenças do bicho-da-seda.

 

Em Trás-os-Montes, e particularmente no distrito de Bragança, a criação e venda dos casulos gerou lucros substanciais, que permitiram atenuar as dificuldades reais de uma região quase exclusivamente dedicada à agricultura. Ora, na penúltima década do século XIX, deu-se o afundamento da sericicultura, com as doenças do bicho-da-seda, e instalou-se a crise vinícola vivendo-se, na região de Trás-os-Montes, momentos dramáticos em que famílias inteiras emigraram, devido à fome e à miséria, aumentando consideravelmente a mortalidade infantil e a pobreza.

 

Com efeito, após 1870-1875, a história da indústria das sedas no nordeste transmontano foi uma história de sucessivas tentativas de recuperação desta indústria, por parte do Estado. No início do século XX, persistiram algumas medidas que visavam reanimar a sericicultura, mas esta já não tinha condições de desenvolvimento. Foi assim que a indústria da seda em Trás-os-Montes se tendeu a esbater no século XX, tornando-se o labor do fio da seda uma atividade cada vez mais artesanal e rara, dependente da proteção dos municípios e das populações locais.

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